Nada é mais desconfortável do que a cama de um hipócrita
Ressurreição
Eu acho que é sim possível morrer de amor – e inúmeras vezes numa só vida
Você está aqui
O que mais aperta no meu peito são as coisas que mais me irritam em você.
É a sua mania de deixar a torneira da cozinha sempre pingando, o som da gota de água batendo na pia me enlouquece e você sabe disso. É esse seu descaso declarado ao deixar a porta do meu quarto aberta sempre que você entra aqui, e essa mania chata de pegar minhas chaves sempre que você não encontra as suas, poxa, é só pendurar no mesmo lugar.
E os meus chinelos que você vive pegando, eu nunca acho meus chinelos. Nós duas calçamos 35.
Tudo isso me tira do sério. E eu respiro fundo toda vez.
Mas me dói o coração toda vez que eu penso que um dia eu não vou precisar levantar pra fechar a torneira direito, já que não vai ter nenhuma gota pingando na pia. E me dói saber que um dia eu vou fechar a porta do meu quarto e ela vai ficar fechada até eu abrir de novo. Me dói mais ainda saber que minhas chaves continuarão no mesmo lugar que eu deixar, e que meus chinelos dormirão e acordarão no pé da minha cama.
Eu acho que é isso que mais vai doer, essas manias chatas, essas coisas que só você faz, essas coisas que me tiram do sério mas que reafirmam o tempo todo que você está aqui.
Os desenhos nas minhas coxas formam caminhos que se cruzam, caminhos que terminam pra começar de novo.
Esses desenhos me lembram que tenho um coração que já foi partido algumas vezes, um coração cheio de desenhos que ninguém vê. Os remendos.
O que carrego nas coxas que sustentam meu tronco, as coxas que balançam num movimento convicto de prazer e força, são as marcas de dias que machucaram, mas além disso elas me lembram que apesar de todos os estilhaços, ainda estou inteira. E é por isso que amo minhas marcas.
– Estrias sem vergonha
Eletrizando
existe alguma força que me leva pra perto de você sempre que as luzes do meu quarto se apagam
essa força me puxa pra baixo do lençol onde eu sinto seu cheiro
essa força toma conta dos meus braços, faz as minhas pernas pesarem uma tonelada, percorre minhas veias eletrizando cada centímetro do meu corpo, minha mandíbula trava, minhas mãos agarram um espaço vazio, e com uma respiração pesada essa força me deixa, me trazendo de volta pro quarto vazio, abandonando todo e qualquer vestígio seu
eu sei que amanhã ao apagar as luzes, essa força vai voltar me levando pro lugar onde sinto seu cheiro e onde todos os meus sentidos se confundem até eu conseguir voltar mais uma vez, até tudo isso acabar
Erva doce
Além tempestade
Não se deixe levar, era o que pensava.
Meu mundo
As pontas dos dedos na minha nuca desenham um caminho que percorre meu pescoço, deixando um rastro quente que vai descendo, levando até meu colo onde os dedos repousam num lugar onde o coração bate acelerado, desejando cada vez mais. E minhas mãos encontram estes dedos e os abraçam como um polvo feroz faria agarrando sua presa. Te mostro outro caminho, abrindo espaço entre meus seios, descendo cada vez mais onde eu te mostro um lugar onde apenas eu moro, onde todo o desejo do mundo se encontra e pede que este lugar, este mundo seja apenas seu por alguns instantes, aqueles instantes onde eu estarei inteiramente entregue ao seu toque, e que deixarei de ser rainha pra me tornar uma súdita, nesse momento meu mundo todo está em suas mãos.
No meu peito
Eu te odeio porque você me deixa com uma sensação ardida no peito. Do início ao fim.
Meu peito ardeu quando te conheci, e ardeu ainda mais quando você eu fomos um só.
Agora arde como uma dor que queima de dentro pra fora e eu só posso dizer que te odeio, odeio por te querer tanto.
Uma Julieta Pós Moderna
Ela correu por uma rua deserta às duas horas da manhã, quebrou o salto, arrancou os sapatos e quase os jogou longe, mas era um par de Loboutin.
A maquiagem borrada de alguém que havia chorado como uma atriz vivendo um drama, cabelos lisos numa perfeição simbólica levados pelo vento, trajando um vestido branco, agora manchado por um vinho barato que ela nem bebeu.
Ela flutuava naquele belo vestido condenado pela mancha de vinho.
Correu como quem foge de uma cena de horror, correu como quem busca salvação.
Atravessou a rua e sentou numa calçada, onde jovens bêbados podiam jurar que ela era apenas uma visão gerada pela última dose de tequila.
Era madrugada, a boemia incomodava, toda aquela felicidade não condizia com o espírito quebrantado de uma moça triste num belo vestido.
Cansou de correr, assim como cansou de esperar.
Numa noite decisiva, onde tudo que se espera são as respostas certas, ela ouviu o que não queria.
Reagiu como nunca achou que precisasse reagir.
Tomou da mágoa a mesma dose do amor, se envenenou.
Cobrou dele aquilo que somente ela daria, e não ganhou.
Fez de tudo um sacrifício, e sacrificou por ela e mais ninguém.
Seu amor era como o vestido que usava, manchado, condenado.
Não queria mais correr, nem por fuga, nem por salvação.
Ela era uma Julieta pós moderna à espera de um Romeu que não viria mais ao seu encontro.
Uma borboleta
Uma borboleta invadiu meu quarto.
Morangos Gigantes
Numa conversa de pura ostentação bem humorada, um cara do meu trabalho falou de morangos grandes que são quase do tamanho de uma maçã, morangos com champagne, morangos gigantes.
Frisante
As perguntas
Tempo
Queria poder parar o tempo, congelar tudo ao meu redor.
Meu Palco É Um Parapeito
Merdas acontecem. Isso é fato.
O que define o estrago da merda é a sua reação quando ela acontece.
Normalmente eu surto. Pode me imaginar como aquele cara num parapeito de um prédio, com uma camisa horrível gritando que deu tudo errado que não vale mais a pena viver. São 5, 10, 15 minutos de surto que realmente não mereciam todo o estardalhaço. Ainda mais quando você está vestindo uma camisa horrível.
Meu Deus, o drama. Dizem que é coisa de leonino, ainda mais quando você é nascido no dia 04, a numerologia reforça este quadro dramático, mais ainda quando se é a irmã mais velha, e quando o amor por gatos felinos e gatos humanos é latente.
Enfim, a vida é uma loucura de altos e baixos, e não existem parapeitos suficientes para tantos “Chega Eu Não Aguento Mais”, porque no final, eu aguento. Sempre aguentei.
E se algum dia você me ver num parapeito de um prédio chique, me jogue uma camisa linda de grife, um batom Rubi Woo, posicione estrategicamente na janela mais próxima um moço de cabelos esvoaçantes tocando Blackbird do Paul McCartney no violão, chame os bombeiros, meus amigos e aquela menina imbecil da 3° Série que eu odiava (crianças odeiam, sim), quero uma cama elástica, quero alguém gritando We Are The Champions no meio da avenida, faça um cara loiro me pedir perdão por tudo, pode ser qualquer um, a licença poética permite. Faça um show. Entre na minha vibe, porque tanto você quanto eu sabemos que eu nunca saltaria dali.
De noite
É à noite que tudo muda
É quando o sono vem que meus medos acordam
E eu não durmo
É à noite que tudo muda
E eu me pergunto se foi tudo real
Pois meus medos me colocam em dúvida
Zombam dos meus sonhos
E eu não durmo
E eu quero acreditar
Quero ter coragem
Mesmo que durante à noite tudo mude
Dia após dia
Eu quero acreditar
E eu não durmo
Até que chega o amanhecer e eu percebo
Que de alguma forma nada mudou
Novembro retrógrado

É importante crescer.
As aulinhas de inglês
Foram alguns anos no curso de inglês ouvindo repetidamente esta frase “improve yourself”,a voz que dizia isso era a mesma voz que anuncia as estações do metrô da linha amarela ~in english~.
Tentei ser melhor no inglês. Troquei ideia com gringo via Skype, fazia as lições, às vezes com certa má vontade, mas fazia. Comparecia às aulas, faltei algumas vezes, mas marcava a reposição e comparecia. Improve yourself.
Meu grafite 0.7 sempre fortemente marcado deixava hieróglifos nas folhas corrigidas. Improve yourself. Ouvia uma palavra. Entendia outra. Ouvia de novo, não fazia sentido, aumentava o som, entendia um pouco, apertava os olhos e voltava pro começo, aquela luz branca da compreensão se acendia em alguma parte do meu cérebro e eu descobria que minha música favorita era na verdade uma grande porcaria. Que decepção. Improve yourself.
E é essencialmente errar querendo acertar. E acertar, por que não?
Vem como chuva
