
Duas mulheres vendo uma exposição.
Eu vou usar essa foto que eu fiz para falar algo que está me incomodando um pouco nesse domingo cinza e chuvoso, em plena primavera.
Penso nas festas que eu já fui. Era sempre assim, festas de amigos com amigos de amigos e amigos desses amigos. Pessoas estranhas. Somos todos estranhos no final das contas.
Aquela velha frase – De perto ninguém é normal – é sempre uma frase boa de lembrar.
Pessoas estranhas no sentindo completo. Não te conheço, e te conhecendo, você continua sendo estranho.
E hoje um estranho levantou uma questão que me deixou intrigada:
– Como uma mulher, em pleno 2021 pode aceitar a bebida de um estranho?
Fico triste porque percebo que na mente de algumas pessoas, a mulher é um ser um tanto ingênuo, até com déficit de intelecto e senso crítico.
Quase uma tolinha, como Branca de Neve, que aceita de bom grado uma maçã envenenada de uma pessoa que claramente é uma bruxa. Mas só faltava o letreiro em neon com os dizeres: BRUXA. Mesmo assim, ela dá uma bela mordida, mastiga e engole o pedaço de maçã envenenada. Os olhos brilham de satisfação, ela desmaia. Desmaia porque é burra e ingênua e a outra é bruxa e esperta.
É isso que muitas pessoas pensam de uma mulher. E deve ser muito cansativo para o príncipe encantado, que tanto trabalha e gasta o cérebro com raciocínio lógico, pensar que além de tudo, precisa salvar a Branca de Neve. Imagina isso no ano de 2021. Coitado.
Essas mulheres que todos os dias entram em Uber com um estranho. Que pedem um Ifood que é um estranho que entrega depois de buzinar ou gritar o nome dela no portão de casa. Que dão match no Tinder com um estranho que parece legal e interessante. Que trocam olhares com um estranho até bonito. São tantos estranhos na vida de uma mulher, desde profissionais da saúde até o porteiro. São tantos estranhos, até o mais próximo, o mais amado, um dia pode parecer um estranho.
Como esse estranho aí na tela que pode me ler.
A gente esquece e eles esquecem, que no final das contas, ninguém se conhece de verdade. E talvez o problema não esteja nessas mulheres de 2021. Mas eles não me ouvem, eu também sou uma estranha.