Uma vez eu sonhei que estava voando. Voando mesmo.
E eu acordei com a sensação de ter voado de verdade, mesmo sem saber como é voar.
Fiquei pensando nesse sonho enquanto eu rabiscava umas linhas num papel branco. A ponta do lápis meio áspera sobre a folha, os riscos sem sentido, a tentativa de um desenho que eu não vou saber desenhar. Rabisco mesmo assim.
Talvez a vida toda seja assim. A gente acha que sabe, na verdade não sabe. Não tem ideia de como é, e sonha assim mesmo. Sonha com essa história de tocar o céu com as pontas dos dedos, de pisar no fundo do mar, dançar com o vento e ficar na chuva mesmo sabendo que vai se molhar.
Eu acho que é assim. Uma hora ou outra você vai acabar olhando nos olhos de alguém e vai ter certeza que você pode voar, e você vai sentir de alguma forma, depois de olhar nesses olhos, que talvez voar nem seja tão bom assim, talvez o que seja bom de verdade é olhar nos olhos certos, os olhos que também acreditam que você pode voar, os olhos de alguém que quando sonha, também voa por aí.