Vez ou outra saio acompanhada por aí.
Acho engraçado dar a mão e entrelaçar os dedos.
Acho engraçado olhar nos olhos e bagunçar o cabelo curto num cafuné carinhoso.
É engraçado quando o garçom pergunta se meu namorado vai pedir alguma coisa.
Ele não é meu namorado, mas poderia ser.
É estranho andar de meias numa casa que não é minha.
É estranho dormir ao seu lado, depois de tanto tempo dormindo sozinha.
É estranho não saber como agir.
É estranho dormir no seu ombro dentro do uber no caminho de volta pra casa, que na verdade é sua casa.
É estranho ouvir minha playlist tocando no seu quarto, e nenhum dos dois com pressa em ir embora.
É estranho já não ser barrada pelo seu porteiro, e é mais estranho me sentir tão à vontade num lugar que não é meu.
E não me refiro à sua casa, me refiro aos seus ombros, seu olhar, seu abraço e suas mãos, seu cabelo macio e com fios prateados no meio de tanta escuridão castanha, me refiro às suas pernas que abraçam minhas pernas, e às suas costas pintadas.
Me refiro ao seu coração.
Falo de todos esses lugares onde sou visita temporária, e para o meu lamento, em todos eles já me sinto em casa.